Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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O “drama” do casal que limpa privadas para dar a volta ao mundo

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h24 - Publicado em 3 set 2015, 06h45

Esta semana, um post do blog How Far From Home virou assunto no Buzzfeed gringo, repercutiu na imprensa brasileira e foi compartilhado à exaustão nas redes sociais. Tanto O Globo quanto a Veja São Paulo deram a “notícia” com o mesmo tom do Buzzfeed: “Casal larga emprego estável para dar a volta ao mundo e acaba lavando banheiros”.

Provavelmente, os publicitários sul-africanos Stevo Dirnberger e Chanel Cartell leram essas “matérias” e terminaram gritando como Caetano Veloso: “Vocês não estão entendendo nada!”.

Os dois largaram empregos estáveis (estáveis?) em agências de publicidade de Johannesburgo, na África do Sul, e embarcaram numa viagem de volta ao mundo. No blog How Far From Home, e no Instagram homônimo, postam fotos inspiradíssimas e plaquinhas que dizem a quantos quilômetros estão de casa. No último post, eles falam do lado menos glamuroso de dar a volta ao mundo da maneira como eles ESCOLHERAM fazer: com pouca grana, completando o orçamento com trabalhos temporários e voluntariado. ESTÃO FELIZES DA VIDA, mas admitem que encarar um serviço braçal tem seu lado difícil. Entre essas tarefas estão limpar privadas e recolher cocô de vaca.

Tanto o tom Buzzfeed-Veja-Globo, como de quem compartilhou, era algo assim: “Tá vendo, quem mandou tentar ser feliz! Viu o que acontece com quem opta por uma vida criativa e desapegada? Eu estou aqui com a bunda no escritório 14 horas ao dia mas pelo menos não desci as escadas da pirâmide social para limpar privadas! Limpar privadaaaaas!” Além de revelar a absoluta falta de sensibilidade para entender o tom irônico com que Stevo Dirnberger e Chanel Cartell descrevem as suas “agruras”, os textos dizem muito sobre a mentalidade de certa facção da sociedade brasileira – sobre a qual falo num texto antigo que acabou viralizando e até hoje gera discussão (clique aqui caso ainda não tenha lido).

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E para quem não se deu o trabalho de ler o post original, eis como ele termina:

“Hoje em dia, apesar de termos mais cabelos brancos do que quando começamos, mais sujeiras embaixo das unhas do que banhos longos, e snacks baratos com forma de nutrição, esse lifestyle maluco nos permite a liberdade de explorar as ricas florestas da Suécia, os intermináveis fiordes da Noruega, as ruelas de paralelepípedos da Itália e cidades cosmopolitas. Temos tempo para viajar nas nossas próprias ideias e alavancar os nossos experimentos criativos. Isso, para nós, é o paraíso. Claro, a lenha precisa ser cortada e o lixo precisa de recolhido, mas uma vez que o trabalho está feito, somos livres para explorar, divagar e dar asas aos nossos pensamentos. Trabalhamos de acordo com a nossa própria agenda, usando (a grande quantidade de) tempo livre para correr ao redor de lagos, garimpar criações inspiradoras e respirar o ar do Ártico. Nada como trocar propagandas com orçamentos milionários por limpar privadas para aprender sobre a humildade e a importância de viver cada dia como se fosse o último”.

Pense nisso.

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Sendo feliz nos intervalos, na Grécia (foto reproduzida do blo How Far From Home)

Stevo sendo feliz nos intervalos, na Grécia (foto reproduzida do blo How Far From Home)

PS: Contrariando todos os prognósticos, fiquei aliviada ao ver os comentários no texto da Veja SP. Vale a pena ler.

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