Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Pequenas e grandes coisas que devem ser valorizadas em São Paulo

Descubra o lado gentil, ambiental, solidário e até limpo da maior cidade da América Latina

Por Adriana Setti
Atualizado em 8 ago 2017, 17h38 - Publicado em 25 nov 2015, 20h06

Reclamar de São Paulo (e morar na cidade para sempre) é um hábito mais paulistano do que a pizza aos domingos e a dependência química do aplicativo Waze. De fato, a cidade é dura. Duríssima. Os paulistanos são os verdadeiros guerreiros do apocalipse, sobretudo aqueles que batalham para tornar a megalópole mais humana, ocupando os espaços públicos quase na marra, pedalando por suas tortuosas ciclovias e se recusando a perder a ternura. Nos últimos dias, tenho me jogado na cidade sem medo de ser feliz, fazendo um esforço para enxergar as coisas boas (que são muitas). Eis algumas pequenas maravilhas paulistanas (e brasileiras), que talvez passem batido a quem mora aqui:

A natureza explode como pode

Que São Paulo é uma selva de pedras todo mundo sabe. Mas é impressionante (sobretudo para quem acostumou os olhos à aridez do Mediterrâneo) a potência com que a natureza explode na cidade quando tem uma mínima oportunidade. As casas ajardinadas têm árvores centenárias, gloriosas, gigantescas. Algumas delas também sobrevivem pelas ruas, levantam a calçada com suas raízes cheias de vigor. Qualquer terreno baldio se transforma num matagal furioso que ameaça derrubar muros, invadir a calçada. Uma rachadura no asfalto e transforma numa jardineira improvisada em poucos dias.

A maioria das pessoas é gentil, apesar dos pesares

Não sou poliana. É óbvio que vejo a agressividade e a violência gratuita que a dureza de São Paulo gera. Mas a maioria das pessoas, no dia a dia, é extremamente gentil. As relações são mais soltas e menos formais do que no Hemisfério Norte. Hoje mesmo fui tirar uma segunda via do meu RG e praticamente fiquei amiga da funcionária que me atendeu. Conversamos, contamos causos… Vi, também, como ela segurava a mão dos clientes para ajudar na tomada de impressões digitais. Na Europa, aquele simples encostar de pele seria motivo de muita estranheza ou constrangimento. Sim, eu prezo esse respeito que os europeus têm pelo espaço alheio, mas ao mesmo tempo sinto falta de um pouco mais de calor humano nas coisas simples da vida. De conversar na fila do banheiro. Da naturalidade com que um ser humano aborda o outro para perguntar algo ou fazer um comentário. Sabe assim?

Arco-íris duplo em dia de chuva de verão em São Paulo: a natureza sempre prevalece sobre a dureza do concreto (Diego Torres Silvestre/creative commons/Flickr)

Resolver o problema alheio é parte da vida

Dias atrás precisei de um motoboy de emergência e não tinha nem um telefone em mãos. Entrei numa lojinha na Avenida Santo Amaro (de produtos elétricos, se não me engano), perguntei se alguém conhecia algum. Um cidadão ligou para outro, que ligou para outro, e em 15 minutos apareceu um rapaz disposto a entregar um documento do outro lado da cidade por R$ 20. Esse tipo de improviso, e de “corrente solidária pop-up” (o famoso jeitinho usado de uma forma positiva), é IMPENSÁVEL em Barcelona, onde vivo. É certo que, vez ou outra, o brasileiro em geral se mete na vida alheia sem ser chamado. Mas quando é para o bem, dá gosto de ver.

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Os banheiros dos lugares de bom nível são sensacionais

Eu vivo falando que o brasileiro tem certa obsessão pelo banheiro. Isso rende ótimas invenções. Qualquer boteco mais arrumadinho tem antisséptico bucal, absorvente, rolo de fio dental… É claro que isso aumenta o preço do chopinho nosso de cada dia. Mas acho esses confortinhos fora de série. E sabe quando que você vai encontrar isso num banheiro europeu fora de um hotel de luxo?

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