Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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A primeira vez na estrada no México a gente nunca esquece

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h49 - Publicado em 15 dez 2011, 22h58

Dirigir no México: quem dirige no Brasil há de sobreviver

Dirigir no estrangeiro é sempre uma aventura. Mais ainda em um país como o México: enorme, ligeiramente caótico, rasgado por montanhas altíssimas e com reputação de “perigoso”. Num lugar com tanta densidade de atrações, viajar de carro vale muito a pena, principalmente se você quiser driblar os roteiros pasteurizados e sair do feijão com arroz. Mas e aí? É arriscado demais?

Como vocês bem sabem, minha viagem ainda está no começo. Mas já deu para aprender algumas (árduas) lições. O primeiro trecho (Cidade do México-Puebla) foi lindo: autopista tapete, GPS com indicações precisas e pouco trânsito, já que estávamos no contrafluxo, isto é, saindo da capital Mexicana pela manhã, quando as pessoas que moram nos arredores entram na megalópole para trabalhar. Se tivéssemos feito o mesmo trecho no fim da tarde, teríamos demorado umas 4 horas ao invés de 2. Primeira lição: planeje os horários de entrada e saída nas grandes cidades, como em qualquer lugar do mundo.

Já no segundo trecho, mandamos muito mal. Saímos de Puebla em direção a Oaxaca tarde demais (por volta das 2 da tarde), numa sexta-feira véspera de feriado prolongado. Por falta de informação, não sabíamos que a autopista estava toda em obras. E, para piorar, seguimos cegamente o GPS (que estava programado para o caminho mais curto) e não usamos o cérebro quando ele nos mandou sair da estrada principal por uma estradinha secundária movimentadíssima que atravessava lugares que fariam Feira de Santana parecer o paraíso. Já super atrasados, a cereja do bolo: pegamos o trecho de montanhas à noite. Conclusão? A viagem de 4 horas acabou sendo feita em 8 horas. Chegamos exaustos, estressados e desiludidos com a vida. Tudo por falta do bom planejamento. Segunda lição: use o GPS com moderação, e estude sempre o melhor caminho para chegar, checando os mapas e falando com as pessoas.

Já escaldados, saímos de Oaxaca rumo a Puerto Escondido com lição de casa feita. Depois de conversar com muitas pessoas, tínhamos em mente que teríamos uma serra duríssima (e bela, na mesma proporção) pela frente. Isso significava que os 250 quilômetros a cumprir levariam cerca de seis horas, na melhor das hipóteses. Já escaldados, acordamos cedinho, escolhemos um um feriado para viajar (porque não haveria caminhões e ônibus na estrada). O pavimento do trecho inicial da serra era esburacadíssimo, o GPS não tinha informações precisas sobre alguns trechos mas, como estávamos preparados, deu tudo certo. Terceira lição: não calcule o tempo da viagem pela quilometragem e tente sempre viajar durante o dia.

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Particularidades mexicanas? Sim, algumas. Não espere a solidariedade humana na hora de trocar de pista ou entrar em uma avenida. Os locais são extremamente mesquinhos para dar passagem. Mas exótico mesmo são os cruzamentos em X, quando misteriosamente um entroncamento o obriga a pegar a mão inglesa por alguns minutos — o que sempre o deixa num momento de “meu, deus, estou na contra-mão ou é assim mesmo?”. No mais, quem dirigiu no Brasil a vida inteira tira o México de letra: caminhões lentos e enormes, carros velhos, animais das mais variadas espécies na pista, buracos que lembram a face da lua, blablabla.

A vida on the road é isso aí: nada substitui a delícia de ter liberdade de ir e vir sem hora marcada, de conhecer as entranhas do país e enfrentar as dores e agruras do caminho. Até o presente momento, a única baixa foi um pobre frango que estava no lugar errado, na hora errada. Que deus o tenha.

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