Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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10 anos de Achados (carta para meu eu de 2007)

Retrospectiva de uma década de viagens, descobertas, aprendizados, love, haters e muito mais

Por Adriana Setti
Atualizado em 19 mar 2021, 19h57 - Publicado em 14 dez 2017, 14h15

Tenho uma dificuldade crônica de memorizar datas. Mas o fato é que o Achados nasceu em algum momento do fim de 2007, quando os blogs de viagem ainda eram novidade no Brasil. Naquele estranho mundo sem Netflix, Instagram e Spotify, o Iphone tinha acabado de ser lançado. E as pessoas ainda não tinham sido abduzidas por seus smartphones – elas ainda conversavam na fila, liam bula de remédio no banheiro e faziam ligações telefônicas. Pouco antes da quebra do Lehman Brothers, que arrastou a economia mundial para o buraco em 2008, nós éramos ricos e não sabíamos: o dólar valia R$ 2 e o IOF para comprar no exterior ainda era de 0,38%. Tudo isso para demonstrar que uma década é uma eternidade nos dias de hoje. E me sinto feliz e orgulhosa por continuar firme e forte tocando este humilde barco graças a vocês, leitores.

Se pudesse enviar uma carta aqui do presente para a Adriana de então, eis o que diria a ela:

Cara Adriana de 2007,

Sei que você está aí começando o projeto Direto de Barcelona (que mais tarde extrapolará as fronteiras da sua cidade e será rebatizado como Achados) sem muita convicção sobre o papel de um blog. Mas, acredite, em poucos anos, esses “diários eletrônicos” serão mais influentes do que as publicações especializadas de viagem e você não pode perder o bonde. Produzir vários textos por semana, além dos que você continuará fazendo para outros veículos, também será uma forma espetacular de praticar a escrita e fará com que você encontre definitivamente o seu estilo.

Ao ter um blog, finalmente saberá o que os leitores pensam sobre o que você escreve. Isso será maravilhoso. E também será terrível. Será surpreendida com uma grande quantidade de mensagens de gente que admira o que você faz, o que dará um novo sentido ao seu trabalho. Mas também receberá críticas, perceberá que seus textos podem ser interpretados de inúmeras formas – algumas inimagináveis – e terá que lidar com o mal do século no cybermundo: os haters. Com o tempo, vai se acostumar. Mas nunca estará 100% imune. Seja forte.

Sei que está aí animadíssima planejando a viagem mais ambiciosa da sua existência até então. Três meses mochilando pela Ásia… que beleza, hein? Tenho invejinha branca desse frio na barriga que sente agora. Você está prestes a abrir uma porta para um universo gigantesco e desconhecido, dentro e fora desse seu corpinho esbelto de quem acabou de fazer 31 (e está se achando um pouco velha). Essa empreitada vai ser um divisor de águas: rodar o mundo vários meses por ano deixará de ser uma exceção para se tornar a regra, o seu estilo de vida. De quebra, ainda vai encontrar um hobby para chamar de seu, o mergulho, e terá a certeza de que a pessoa que a acompanha nesta jornada é para toda vida.

Aproveite essa fase com a intensidade quase insana que costuma imprimir a tudo o que faz (principalmente quando o assunto é carpe diem). Mas, se não for pedir muito, cuide um pouco mais dessa carcaça. Carregue menos peso nas costas, coma melhor, beba menos (cerveja, sobretudo), tome menos sol. Andei tendo que fazer muito pilates, crioterapia e regime natureba para dar um jeito em algumas besteiras que você fez.

Quer spoiler? Dos próximos dez anos, você passará um inteirinho na Ásia. Também irá para Austrália, Nova Zelândia, Fiji, Costa Rica, Panamá, Nicarágua, México, África do Sul, Namíbia, Moçambique… Percorrerá a América do Sul de carro e verá a Europa de cabo a rabo (até a Albânia!). Ainda rodará muito pelo Brasil e dará uns pulinhos nos Estados Unidos. Depois de tudo isso, descobrirá que o seu canto favorito no mundo está bem pertinho de Barcelona, no meio do mar Mediterrâneo. E essa paixão tardia vai fazer com que você queira passar um tempo quietinha, em silêncio, bem distante das buzinas de Hanói, perto da sua família. Espero você aqui. Mas não se apresse.

Adriana 2017

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