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Viajamos para a Escandinávia para ver as auroras boreais; leia o relato e inspire-se!

Em 2013, o ciclo da atividade solar chega ao pico e deve criar as auroras boreais mais intensas dos próximos dez anos. Fomos à Escandinávia para ver o fenômeno na escala máxima de beleza

Por Paola Gentile
Atualizado em 16 dez 2016, 08h08 - Publicado em 4 fev 2013, 18h26

As folhas em tons de ocre e a chuva fina anunciavam o outono europeu. Mas o céu cinzento não era a recepção que eu esperava de Tromsø, a maior cidade do norte da Noruega. Afinal, foram 26 horas de viagem desde São Paulo com o propósito de admirar a aurora boreal. De 2012 a 2013, com a atividade solar no auge, o espetáculo natural que enche o firmamento de luzes recebe doses extras de combustível (veja mais abaixo), fato que só se repetirá daqui a dez anos. Não há momento melhor para ver o fenômeno.

Ainda assim, eu sabia que faria uma viagem de risco, como havia me adiantado pela internet o caçador de auroras Daniel Garcia. O advogado carioca viu as luzes pela primeira vez em 2006, durante um mochilão. “Fiquei encantado e queria mais. Mas a única maneira de voltar seria organizando grupos que bancassem minha passagem”, conta. Ele começou a convidar os amigos até que, no ano passado, abriu a Geotrip (geotrip.com.br), agência especializada em procurar auroras.

Meu grupo era o oitavo guiado por Daniel e o primeiro a ir em setembro, no equinócio de outono, época favorável para o fenômeno. Mas, se o sol estiver com baixa atividade, esqueça. Se estiver nublado, idem. Fomos instalados no Hotel Scandic (scandichotels.com/tromso) e, às 20 horas, nos encontramos no saguão. Daniel e seu cliente-assistente Vinícius Schambeck acessavam sites de meteorologia e a home da Nasa, oráculo dos caçadores de aurora por informar o nível de atividade magnética a cada hora. Às 22 horas, partimos de lá cientes dos parcos 20% de chances de ver alguma coisa.

Seguimos para a Ilha de Kvaløya, onde as pálidas luzes da cidade não interferem na visão do céu. Fazia 5 graus. Nas duas horas de espera, aproveitamos para testar o equipamento fotográfico em alta exposição – é fundamental ter tripé. Tentamos 15, 20 e 30 segundos de abertura do obturador. Com 30, ficou bom. E a aurora? “Que tal um conhaque para esquentar?”, sugeri. E foi numa virada de copo, com a cabeça inclinada, que a estudante Bruna Cavassani engasgou: “Aquilo não é a aurora?”

Glub! Era! A luz que parecia ser um reflexo da iluminação urbana ficou mais verde e maior, surgindo ora ao norte, ora ao sul, às vezes mais fraca, às vezes intensa. A atividade magnética, segundo a Nasa, estava no grau 5 de uma escala que vai até 10. Às 2 da madrugada, a aurora dormiu, e nós também, ansiosos por mais.

As cortinas iridescentes de Kilpsjärvi

As cortinas iridescentes de Kilpsjärvi – Foto: Vinícius Schambeck

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No dia seguinte, entre chuvas esparsas, fomos conhecer Tromsø, cidade com 70 mil habitantes, 12 museus e uma biblioteca pública enorme. Visitamos dois famosos projetos do arquiteto Jan Inge Hovig: a Catedral do Ártico, cujos triângulos remetem ao perfil dos icebergs, e o Museu Polaria, dedicado ao ecossistema do Polo Norte. Depois passamos em frente à casa do primeiro homem a chegar ao Polo Sul, o norueguês Roald Amundsen (1872-1928).

À noite, nova caçada. Rodamos de van até o vento limpar o céu. A aurora apareceu em forma de arcos durante uma hora, movimentando-se como leves tecidos transparentes. “Ela segue as linhas eletromagnéticas da Terra”, explicou-nos o geógrafo João Wilson Santos. Naquela madrugada, tivemos mais sorte: nível 6 de atividade solar.

Nas duas noites posteriores, passamos horas infrutíferas atrás de um pedaço de céu aberto. No dia seguinte, partimos para o vilarejo de Kilpsjärvi, já na Lapônia finlandesa. No percurso de 170 quilômetros, paramos para apreciar os fiordes e almoçar carne de rena no Marja’s, na beira da estrada. Enquanto anoitecia, nossos guias consultavam a Nasa. Às 6 da tarde, a atividade solar havia atingido nível 8! Era a noite! Sob o céu estrelado, zanzamos na beira de um lago por duas, três horas. A temperatura havia despencado e o conhaque, acabado. E nada de aurora. “Vou mandar um e-mail pedindo à Nasa que tire os estagiários do site”, brincou Vinícius.

De repente, ela veio. Intensa. O céu ardia em chamas verdes, lilases e vermelhas. Era impossível controlar a catarse do grupo. Um vaivém de tripés tumultuou a tranquila vila campestre, fazendo com que um morador saísse enrolado no cobertor. Para acentuar a intensidade das luzes, fomos atrás de mais escuridão, encontrando um lago que refletia as cores da aurora. Três horas depois, ainda embasbacados, pegamos o rumo de volta.

Não deu dez minutos. Daniel parou bruscamente a van sem conseguir explicar o que acontecia. Saímos do veículo abismados. Bem acima de nossas cabeças, a abóbada celeste estava tomada de luzes nos mais diversos formatos que se expandiam como fogos de artifício. No horizonte, cortinas coloridas rodopiavam feito casais em um salão de baile. Foram 15 minutos com o coração na boca. Naquela noite, a última em que conseguiríamos ver o fenômeno, o site da Nasa indicava nível 10.

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Lucy in the sky

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Gráfico de atividade solar

A cada 11 anos, o gráfico de atividade solar registra um novo pico do ciclo. * Quanto maior o número de manchas solares, mais o Sol está expelindo seu plasma

  • Como as auroras acontecem?

As auroras – boreal no Hemisfério Norte e austral no Sul – se formam pelo choque de partículas ionizadas que vêm do Sol com as da magnetosfera terrestre, que são aceleradas em direção aos polos da Terra e colidem com as moléculas de gás da atmosfera. Estas saem de seu estado energético baixo e, ao voltar ao normal, liberam energia em forma de luz.

  • Quando são mais frequentes?

O Sol sempre expele matéria, mas há épocas mais ativas. Os picos desse ciclo acontecem a cada 11 anos – entre 2012 e 2013, estamos nele (veja acima). Ao longo do ano, o melhor período para ver as auroras é no inverno, com o céu bem escuro, além do equinócio de outono.

  • Por que no equinócio?

Nos equinócios (quando os hemisférios são iluminados igualmente pelo Sol, fazendo noites e dias terem quase a mesma duração), a configuração geométrica otimiza a interação entre a magnetosfera e o vento solar, permitindo um rápido fluxo de partículas para o interior da atmosfera.

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  • Por que as auroras são vistas somente nos Polos?

Porque o campo magnético é mais intenso nos polos, atraindo o vento solar.

  • Por que não se ouve falar da aurora austral?

As auroras boreais são visíveis em regiões habitadas, ao contrário das austrais, que ocorrem na Antártica.

  • Por que as luzes da aurora “dançam” no céu?

Por causa da perturbação da magnetosfera terrestre pelo vento solar ou da atuação do próprio vento da atmosfera.

  • Como a massa solar chega à terra?

Quando a atividade da massa solar externa (coroa) fica intensa, há grandes explosões e o plasma é ejetado para o espaço a uma velocidade de até 3 milhões de quilômetros por hora.

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Consultoria de Enos Picazzio, astrônomo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP

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