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Roteiro: 48 horas em Manchester

A duas horas de trem de Londres, há museus de graça, chame do fog, brechó por quilo, café com gatos e o melhor espeto!

Por Bruno Favoretto
Atualizado em 23 out 2018, 18h20 - Publicado em 23 out 2018, 17h54

DIA 1

17h – Madchester

Manchester tem uma cultura musical e notívaga estrondosa. Desde os anos 1980, se tornou a “Florença renascentista” no quesito festeiro, dizia Tony Wilson (1950–2007), um jornalista sarcástico (como o povo local) que fundou a Factory Records, onde lançou bandas lendárias como Joy Division, New Order e Happy Mondays.

O filmaço A Festa Nunca Termina resume essa era e como ele criou a Haçienda (15 Whitworth St), a balada mais famosa do mundo nas décadas de 80 e 90, que revelou muita gente – o primeiro show da Madonna no Reino Unido foi lá.

O prédio onde ficava a Haçienda, que já foi a balada mais famosa do mundo. Hoje, é um edifício de apartamentos. (Dave Thompson/Getty Images)

O night club fechou em 1997 e virou um prédio residencial, mas quem curte música britânica vai querer uma foto na porta dessa construção de tijolos, o epicentro da Madchster, um apelido-trocadilho com a loucura noturna da cidade.

Depois, atravesse a Whitworth e caia na First St, onde fica o Tony Wilson Place, um bulevar recheado com restaurantes e bares agitados como o Street on 1st, um lounge com terraço no Innside By Meliá, hotel charmoso e cool, onde eu felizmente me hospedara e o novo Bunny Jackson’s, com soul food, blues e dardos na parede.

O Home, complexo cultural com galeria de arte, cinema e teatro (Marketing Manchester/Divulgação)

No fim, comi a generosa margherita do Pizza Express. O Tony Wilson Place agrega ainda o Home, complexo cultural num edifício modernex, que é galeria de arte, cinema e teatro.

21h – Birita desde 1806

Essa região no coração de Manchester é acessada pela estação de trem Deansgate, pela Manchester Central ou pelo Metrolink, o sistema de bondes que facilita ainda mais a ótima mobilidade com seis linhas que cobrem até os subúrbios.

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O passe diário é £ 7 para adultos e £ 2,90 para crianças – quem é flagrado sem um tíquete validado leva uma multa de £ 50, portanto não arrisque um “jeitinho brasileiro”.

O The Briton’s Protection, pub de 1806. (Instagram @thebritonsprotection/Reprodução)

Enfim, como tudo é perto, táxi e Uber saem barato, mas ande: do Tony Wilson Place, volte à Whitworth St, que não tem mais a Haçienda mas reúne outras casas noturnas legais, e, 6 minutos depois, chegue ao Gorilla. Lá, aproveitei o jazz experimental da banda Portico Quartet.

Se você não é fã de música ao vivo, aposte no The Briton’s Protection, pub de 1806, colado no prédio da velha Haçienda, que no período de guerras era usado pelo exército para recrutamento. Com 300 tipos de uísque, é tombado e conserva até os mictórios originais dos 30’s.

DIA 2

10h – Arte Grátis

Berço da Revolução Industrial, Manchester não dá bola para a barra da saia da Rainha, tanto que seu símbolo é uma simpática abelha trabalhadora, vista em estampas de moletons vendidos como suvenir, em mosaicos, grafites ou desenhada em lixeiras e postes, pronta a ser instagramada.

O Museum of Science and Industry (Marketing Manchester/Divulgação)

Uma história de trabalho e pioneirismo que pode ser entendida perto da Deansgate Station no Museum of Science & Industry, que, assim como os outros museus e galerias, não cobra entrada. Legal para entender essa história industrial do algodão, da primeira fábrica da Rolls Royce e de invenções como o microscópio e o primeiro computador programável.

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Dali, ande 9 minutos até a John Rylands Library, prodígio neogótico/vitoriano com colunas, vitrais e arcos que remetem às catedrais do século 17, embora tenha sido concluída em 1900. No acervo, a Bíblia de Gutenberg e o exemplar mais antigo do Novo Testamento.

Interior da John Rylands Library, a biblioteca da Universidade de Manchester (VisitBritain/Simon Winnall/Divulgação)

Mais 6 minutos de caminhada conduzem à Manchester Art Gallery, de 1824. Confira desde clássicos ingleses, como a tela Work, de Ford Madox Brown, à arte contemporânea da portuguesa Joana Vasconcelos.

13h30 – Espeto, espeto meu

Alcançado após uma caminhada de 9 minutos, o bar e restaurante The Oast House conta com um beer garden e um aconchegante salão de madeira que está sempre cheio, mas o melhor são os hanging kebabs, a coisa mais gostosa que ingeri na Inglaterra.

O hanging kebab, delícia vendida no The Oast House (Instagram @theoasthousemcr/Reprodução)

Escolhi o salt and pepper pork: é uma barriga de porco servida num espeto com cebola, e a gente é encorajado a despejar um molho de maçã por cima, que desce pelo espeto e cai sobre as fritas, que repousam embaixo – dá para trocá-las por arroz de coco.

Existem ainda versões vegetarianas e veganas por a partir de £ 10 e, à noite, a música ao vivo é de graça.

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15h – Bate-bola, patins

Tudo é perto. A gente passeia e nota o mix arquitetônico, algo recorrente em cidades assoladas em guerras. Estão lá desde as heranças dos tempos em que Manchester pertencia ao Império Romano, como a longa, plana e já citada Deansgate, às construções modernas e áreas como a vizinha
Spinningfields, a região do The Oast House e da John Rylands, cheia de lojas chiques.

Aí insurge a amadeirada Cathedral, de 1422, com seu jardim. Há alguns anos eles inauguraram uma esplanada ali, onde o povo roda de patins, bom para comer e até ir com a família.

O National Football Museum (VisitBritain/Simon Winnall/Divulgação)

É em frente ao National Football Museum, que tem uma calçada da fama externa que inclui os brasucas Pelé, Ronaldo e Marta. Ele, que destrincha o futebol desde que fora inventado pelos ingleses, também é gratuito, porém tem de comprar uma ficha para bater pênalti e narrar um gol.

Hoje, Manchester concentra dois dos mais poderosos clubes do mundo. É difícil arranjar ingressos para os jogos, mas há tours guiados, daqueles em que se entra até no gramado, no estádio do United, o Old Trafford, por £ 18; e no do City, o Etihad, por salgados £ 23,50. Vá de bonde e agende nos sites.

O Etihad Stadium, do clube Manchester City (VisitBritain/Bray Leino/Divulgação)

20h – Impressionando

A 2 minutos da Victoria Station, o The Pilcrow é um pub-cooperativa mantido por pequenos produtores cervejeiros, que fazem bebidas sazonais, além de ter noites de quiz e DJs. Se a ideia é um jantar pujante, rume ao The Refuge by Volta, com salada a £ 5 e menus a £ 45.

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DIA 3

10h – Brechós a kg, café com gatos

O miolo central Northern Quarter é cheio de compras espertas, com uma penca de brechós descolados que evidenciam a moda anos 1990. Alguns
vendem por quilo, como em Amsterdã, mas são mais baratos e compensam, caso da Blue Rinse, na Oldham St. As roupas têm uma etiqueta com uma cor, o que determina o valor do peso.

Vendas por quilo na Blue Rinse Vintage (Instagram @blue.rinse.manchester/Reprodução)

O Northern Quarter, cuja Dale St serviu de locação para Capitão América, tem suas charity shops, que vendem de roupas a livros e revertem a renda à
caridade, a exemplo da RSPCA (15 Oak St). Tem até os que geram fundos para a proteção animal.

Aliás, gateiros ficarão encantados com o Cat Café. É assim: pague £ 6 e permaneça por 30 minutos com os felinos a ronronar bebendo café e chá à vontade.

No Cat Café, é assim! (Instagram @catcafemanchester/Reprodução)

Agora, o lugar mais visitado do Northern Quarter, que também tem opções noturnas como o célebre bar Night & Day, é a Afflecks. Este prédio de quatro andares é considerado a pedra fundamental do comércio moderninho, com roupas, tatuagem, cosméticos veganos, pôsteres, cristais e até leitura de tarô.

Cético que sou, optei por não perguntar à cartomante se eu voltaria a Manchester um dia. Pressinto que sim, pois lá a festa nunca termina, como no filme de Tony Wilson.

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