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Programa de índio

O namorado da nossa colunista adora uma viagem radical. Ela também. Mas no canal a cabo

Por Gisela Rao
Atualizado em 16 dez 2016, 08h52 - Publicado em 9 fev 2012, 17h35

Tenho um certo pavor quando chegam as férias porque sei que vai rolar uma DTR, a discussão-turística-da-relação. A primeira vez que eu disse para o meu namorado que queria fazer uma viagem cultural, ele veio com São Tomé das Letras, em Minas Gerais. Eu havia pensado na Europa, mas achei que devia abrir meus horizontes e fui. E me estrepei. Primeiro porque a estrada era cheia de curvas e eu fiquei com medo de que me confundissem com um ET de tão verde de enjoo que fiquei. Segundo porque a pousada tinha tanto mofo que sofri uma crise de asma. Terceiro porque comi alguma coisa que me fez mal e passei dias de rainha, sentada no trono.

Claro que havia coisas legais, como a Gruta do Feijão, um verdadeiro paraíso. Paraíso para quem não é claustrofóbica como eu. Tá, você deve estar pensando que eu sou uma mala sem alça. Acontece que sou mega-súper-hiperurbana. Adoro natureza. Só que no Discovery Channel. Sou fã do programa do Bear Grylls, um cara louco de atar que se coloca em situações de risco. Aprendi com o maluco o que fazer se estiver perdida nos Alpes franceses e a água acabar: nada de chupar gelo, o que poderia causar hipotermia. O certo é colocar a neve em um recipiente e mantê-lo junto ao corpo até que vire água.

Eu curto ver essas coisas na TV, sentada no sofá. Já o meu namorado é louco para viver isso na prática. Amazônia, vulcões na Indonésia, Deserto de Dasht-e-Lut, no Irã, um dos lugares mais quentes do planeta. E eu me pergunto: pra quê?

Quando eu lanço a ideia de irmos para a Itália, buscarmos uma mesinha na Piazza di Spagna, em Roma, e curtir um bom vinho, ele me vem com a Antártica. Pra quê? Porque tem pinguim, ele diz. Mas pinguim bica, juro! Minha amiga foi pra Patagônia e ficou encurralada por um bando de pinguins e a pinguinzada avançou sem dó. Quem mandou obstruir a rota de fuga dos bichinhos?!?

Neste ano eu queria algo bem romântico. Insisti na Europa de novo, Paris, Veneza, aquela coisa gôndola. Ele veio com Xingu. Acho que só me resta curtir um programa de índio.

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