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Nova York sexy

Um roteiro pelos lugares mais quentes de Nova York, guiado por uma viajante que havia acabado de terminar um namoro e, como toda garota, só queria se divertir

Por Lilian Vidigal
Atualizado em 16 dez 2016, 09h16 - Publicado em 8 set 2011, 12h54

Algumas viagens são rituais de passagem: além da tradicional lua de mel, tem a viagem de formatura, a de 15 anos, o intercâmbio… E agora está surgindo a viagem de separação. É um tipo de lua de mel, só que com a gente mesmo: pode ser só farra e pé na jaca, com direito a raves e cruzeiros de solteiros, pode ser uma fuga solitária para uma praia deserta, uma imersão em novas culturas e paisagens, uma aventura com um ovo amor ou um simples recolhimento com a família no sítio. Vale tudo. Mas uma viagem com certeza ajuda a virar a página e mudar de capítulo. Eu, por exemplo, acabo de voltar da minha. E continuo em lua de mel – comigo mesma.

Aconteceu meio por acaso. Meu ex foi fazer um ironman no Havaí. Eu ia junto, claro.  Ao longo de três anos juntos, viajamos bastante, inclusive para o Havaí. Mas tivemos um desentendimento pouco antes da prova e ele foi sozinho. Tudo o que eu queria era estar ao lado dele na linha de chegada, e por um triz não caí na besteira de torrar minhas milhas e fazer uma “surpresinha”. Em vez disso, no auge da minha dor de cotovelo, usei as tais milhas não para apoiar mais uma conquista dele, mas para criar uma conquista minha: decidi ir a Nova York. Um pouco em busca de trabalho, outro pouco em busca de diversão. De fugir do mundo, de me encontrar de novo. Ideia de uma amiga também recém-terminada com o “Big” da vida dela que soube que eu estava prestes a correr atrás do meu ex no Havaí. Ela chamou outras duas amigas. Duas são mães, como eu. Feriado à vista. Milhas sobrando. Quatro balzaquianas tristinhas. Merecemos, depois de anos nos dedicando aos nossos Bigs, nossos filhos, ao trabalho e às nossas casas. Todas ficaram sem seus amores recentemente. Éramos quatro ex.

Essa ida a Nova York foi bem diferente de quando eu ia com o meu Big. Com ele, a prioridade era trabalho e esporte. Agora a história era outra: estávamos assessoradas por amigos nova-iorquinos que nos paparicaram magnificamente. Tinha o Ted, que sempre nos convidava para um jantar bacanão com amigos descolados. Da mesa ele dava telefonemas e dali íamos aos clubs mais exclusivos de Nova York. No começo me assustei com as filas de gente linda na calçada. Depois vi que era só o Ted aparecer para que os seguranças abrissem a tal cordinha de veludo para ele e sua entourage, sob os olhares intrigados das locais esperando para entrar. Lá dentro, éramos sempre levadas ao camarote e o champanhe simplesmente chegava, geladinho e sem parar. Mal sobrou tempo para dormir tamanho o agito de nossa agenda. E para quatro mulheres se movimentarem leva bem mais tempo do que quando uma delas está sozinha: uma espera a outra tomar banho enquanto escolhe a roupa e todas dão palpite na produção de todas, zanzando entre um quarto e outro.

Na primeira noite fomos ao Butter, levadas por um amigo bonitão das meninas que é dublê e paraquedista profissional em Los Angeles. Ele até foi cumprimentado por um rapaz de outra mesa pela beleza e fartura da companhia. Eu estava faminta, depois de um dia agitado. Escolhi um steakzão com um adorno de cogumelos. As outras preferiram o pato laqueado. O dublê foi de franguinho light, o que talvez explique a barriga tanquinho. Embaixo do restaurante fica o club. Camarote, só para quem consumir mais de “three grands”, nos diz o garçom (ou seja, mais de 3 000 dólares). Eu ainda estava cansada do voo e queria ir pro hotel. Desci só de curiosidade, porque o maître nos passou na frente da fila. O sono passou na hora. Era segunda-feira, “o” dia da balada vip em Nova York, porque as pessoas passaram o fim de semana fora e estão cheias de novidades para contar. O clima é de flerte. Som para dançar no volume exato para poder conversar. O paraquedista, cada vez mais encantador. Na pista de dança, fomos descobrindo afinidades que na mesa do restaurante não estavam tão claras. Do nosso lado, Ronaldinho Gaúcho com uma turma. Outras mesas com tiozões russos com moças lindas, outras com árabes exibidos, outras com nova-iorquinos “bem-nascidos e malcriados”. Ferveção. Gente bonita. Quatro da madruga. Minhas amigas, cheias de cartões de visita e mil convites. Saí de mãozinha dada com o nosso anfitrião dublê e ainda ganhei uma rosa no caminho. Mas ele precisava voltar para LA…

No dia seguinte, pus a minha flor vermelha numa garrafinha e fui com as meninas ao Metropolitan, que sempre vale a pena revisitar. Se tive sorte na noite anterior, tive mais sorte agora: retrospectiva de Francis Bacon, que eu adoro. Programão para o dia inteiro. E a sensação é sempre a de que não se conseguiu ver tudo. À noite, sushi no Nobu Next Door com outros amigos. O Next Door é menorzinho e mais acolhedor que o Nobu original. De lá o Ted nos levou ao GreenHouse: um club todo forrado de vegetação e cristais que, com a luz maluca do lugar, dispensa qualquer alucinógeno. No camarote, uma turma de negros lindos, obviamente riquíssimos, em volta de um baldão de champanhe. Eles falavam uma língua exótica e dançavam de um jeito erótico. E pareciam não estar nem aí para nada. Por toda parte, meninas magrinhas, vestidos bem curtos, mesmo com o friozinho lá fora. Música eclética. Nós quatro, felizes.

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A quarta-feira foi de sacolas e mais sacolas pelas ruas do Soho. Coincidência: numa sala exclusiva da Prada, encontramos outra amiga que estava lá para um trabalho justamente com o estúdio em que eu tinha uma reunião. Depois de uma torta no Cipriani, pausa no hotel: iPod tocando a nossaplaylist, pezinhos para o alto, falando bobagem e dando risada entre cabides, make-up, secador e chocolatinhos. À noite, nosso “semianfitrião” foi um banqueiro charmosão que passou um Réveillon no barco de uma das meninas em Angra. Ele quis retribuir a hospitalidade, mas a namorada telefonava sem parar e ele parecia todo aflito, coitado. Nos encontrou para um drinque rápido no Pravda e, antes de ir embora, nos levou ao La Esquina, um lugar “secreto”, que tem a entrada dentro de uma taqueria. Descemos uma escada escura que parecia que ia terminar no esgoto. Lá embaixo, começamos a ouvir talheres. Música. E boa. Som de gente feliz. Luz. Passamos por dentro de uma cozinha grande e agitada para chegar ao restaurante-club com um jeitão urban-decay-estiloso que só é possível em NY. Lugar para iniciados com um toque fusion mexicano. Pedimos um cevi che de entrada e um bom pinot noir da costa oeste. Aos poucos o restaurante foi virando pista de dança, com casais dançando de um jeito bem “caliente”. Na hora da conta, uma surpresa: o garçom nos disse que o banqueiro nos ofereceu o jantar, mesmo sem estar presente, se desculpando pelo sumiço. Thanks, anyway: a gente entende…

Passear pelo Central Park foi engraçadíssimo. Corremos dançando, pulando, cantando… As duas mais palhaças mexendo com todo mundo. As duas mais tranquilinhas, só dando risada. A molecagem entre amigas é mais preenchedora que qualquer relacionamento vencido. À tarde, depois de uma voltinha com elas pela 5ª Avenida, fui à minha reunião no estúdio de design. De lá voltei a encontrar a turminha para uma happy hour no novo W Hotel, que é desses ultracontemporâneos que mesclam alto design e ambiente intimista. Uma troca de roupa depois, fomos jantar no Mr. Chow, um chinês fusion com pratos “to share” e fotos P&B esquisitas na parede. De lá, fomos ao chique Rose Bar, onde jogamos sinuca à beira da lareira com uma alemã meio chata que queria levar o jogo a sério em vez de se divertir, e de lá a outro bar exclusivíssimo: o 1 Oak. E dá-lhe champanhe. O ponto em comum entre todos esses lugares é que não se vê nenhum casal aos beijos. Lá é indecente. Mas eles dançam de um jeito que para nós é quase pornográfico.

Sexta foi um dia para nos curtirmos. Ficamos entre um quarto e outro, fofocando e arrumando a bagunça de roupitchas e compritchas. Almoçamos no Bar Pitti, um italianinho alto-astral do Fashion District que lota de estudantes de moda. Só aproveitando a tarde de sol e a conversa das amigas à mesinha na calçada. À noite, um musical. Afinal, estamos em Nova York: o Mamma Mia. A emoção de um espetáculo da Broadway é sempre enorme e cheia de energia. Uma das amigas foi embora no intervalo, meio tristinha com problemas amorosos. Chegando ao hotel, cumprimos nosso papel de amigas e rebocamos a moça para comer alguma coisa. Lá tudo fecha cedo. O jeito foi um hamburgão num Diner 24 horas. Exaustas.

O último dia foi cada uma por si: uma tinha encontro, outra queria pesquisar o mercado de papelarias, outra queria comprar mais coisas ainda, outra foi ver pontos turísticos. Mas a noite era nossa. Começamos com um jantar no delicioso Spice Market. De lá passamos por vários clubs com um amigo brasileiro que é modelo e tem entrada livre a alguns lugares legais. Até num karaokê em Koreatown a gente foi. Terminamos a noite quando já era dia numa limusine com uma turmona e som no último volume. Quando entrei no quarto do hotel, vi que a rosa vermelha que o paraquedista tinha deixado no primeiro dia, antes de voltar para LA, ficou linda até o final da viagem, me impedindo de pensar em capítulos passados. Em uma semana, a amizade entre nós quatro cresceu e cada uma de nós se fortaleceu. Mas isso não impediu uma baixa: uma voltou com o Big dela. Outra passou a não atender o celular quando vê que é o ex, todo carente. Outra não tá nem aí pra nada, cheia de pretendentes. E eu estou me preparando para a vinda do paraquedista ao Brasil. Embora essa viagem tenha parecido uma maluquice, foi uma das decisões mais sábias de nossas vidas.

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