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Expulsos do navio

O casal embarcou em um navio em Santos para uma travessia transatlântica até Lisboa, mas a viagem, para eles, terminou antes, em Tenerife

Por Fabrício Brasiliense (edição)
Atualizado em 14 dez 2016, 12h01 - Publicado em 14 set 2011, 17h41

Eu e meu marido, Richard, embarcamos em 5 de abril no navio Vision of the Seas para uma travessia transatlântica de Santos a Lisboa. Na parada em Salvador, tomamos chuva, e meu marido passou os dois dias seguintes na cama. Medicado, dois dias depois ele estava bem. Em 15 de abril, aportamos em Tenerife, nas Ilhas Canárias (Espanha), onde pegamos um táxi até o Vulcão Teide. Lá no alto, meu marido desmaiou. Ele foi prontamente socorrido por uma equipe de plantão (o “mal de altura” é algo comum por lá). Assim que descemos ao nível do mar, ele sentiu-se melhor e, ao chegarmos ao navio, já estava totalmente recuperado. Quando zarpávamos de Tenerife, fomos chamados pelo sistema de som. Foi aí que começou nosso pesadelo. Cinco homens surgiram no deque em que estávamos e nos levaram a uma sala, onde recebemos o ultimato: disseram que meu marido era cardíaco e que deveríamos deixar o navio. Se, em terra, conseguíssemos um atestado médico dizendo que Richard não tinha problemas de saúde, poderíamos embarcar em algum dos próximos portos (Funchal ou Cádiz). Daquele momento em diante fomos impedidos de falar com outros passageiros e, escoltados por seguranças, nos levaram até a cabine para que fizéssemos as malas – nos impediram também de fechar a porta. Fomos sumariamente expulsos, sempre vigiados pelos seguranças. No hospital de Tenerife, o médico atestou que, para um homem de 83 anos, Richard gozava de ótima saúde. No dia seguinte, enviei um fax para a empresa Royal Caribbean, em Miami, encaminhando a cópia da carta do médico. Demoraram um dia e meio para informar que poderíamos retornar ao cruzeiro, que àquela altura estava em Cádiz, no sul da Espanha, para onde teríamos de voar. O desgaste e a humilhação eram tantos que preferimos ir direto a Lisboa por nossa conta. Aquela viagem foi um trauma para nós. – Maria Jesus Costa, São Paulo, SP

A VT tomou conhecimento do caso por meio de um passageiro que estava naquele mesmo cruzeiro e nos escreveu no fim de maio, perplexo, narrando o que havia testemunhado. Por coincidência, o mesmo passageiro encontrou o casal expulso do navio em Lisboa, ponto final daquele cruzeiro. Os dois estavam decepcionados pela humilhação a que foram submetidos. Entramos em contato com Maria Jesus Costa, que narrou o caso em detalhes, e também com a Royal Caribbean para entender os motivos da expulsão. A armadora disse à VT que a decisão sobre o desembarque do casal visava à saúde de Richard. “A equipe médica, por cautela, decidiu encaminhar o hóspede para que realizasse exames específicos em terra, tentando evitar, assim, a possibilidade de problemas cardíacos mais graves.”

A título de compensação, a passageira contou que a Royal Caribbean ofereceu uma nova viagem ao casal em um dos navios da companhia, que foi recusada devido ao desgosto pelo qual eles passaram. A passageira, então, contratou um advogado para tentar um acordo amigável – medida que pouparia que um eventual processo se arrastasse por anos. Quatro meses de negociações depois, Maria Jesus contou à VT que a Royal Caribbean pagou o montante de R$ 25 000 a título de acordo extrajudicial pelos transtornos, evitando assim um processo que possivelmente seria favorável ao casal.

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