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Uma panorama sobre o Alentejo

Alentejo, em Portugal, é rural nas planícies, histórica nos vilarejoa. A maior província lusitana convida à vida boa e simples

Por Fernando Souza
Atualizado em 6 abr 2023, 18h21 - Publicado em 18 set 2011, 17h04

Ao sul do Rio Tejo, Portugal se abre para uma planície ocupada por herdades (fazendas) e cidadelas. A pouco mais de uma hora de Lisboa, o Alentejo é a maior província do país, mas equivale em tamanho ao segundo menor estado brasileiro, Alagoas. Nada fica longe. As estradas são boas e alugar um carro é uma barbada, em que pese o litro da gasolina a € 1,65. Na locadora Interrent (www.interrent.com), com loja em Lisboa, consegui um veículo 1.2 com seguro por menos de € 30 a diária. Às margens de rodovias como a IP2, a paisagem alterna parreirais, oliveirais, pastagens de ovelhas e plantações de sobreiros e azinheiras, duas árvores importantes para a economia local. O futo delas, a bolota, entra na dieta do porco preto, resultando em um pernil de altíssima qualidade – versão portuguesa do pata negra espanhol. Do tronco do sobreiro ainda se extrai a cortiça, o que facilita a identificação da árvore pelo caminho: já sem a casca, seus troncos ficam nus e, em contraste com os galhos intactos, parecem trajar luvas três quartos.

A face Globo Rural do Alentejo não é só o que se vê do carro. Em vinícolas como a Cartuxa (www.cartuxa.pt), que produz o lendário vinho Pêra-Manca, em Évora, e a Herdade do Esporão (www.esporao.com), em Reguengos de Monsaraz, há visitas guiadas aos parreirais, às adegas e aos lagares, nas quais você aprende sobre o terroir alentejano e seus tipos de uva (aí vai: trincadeira, aragonês, periquita). Só para avistar a torre-símbolo do Esporão e chegar à sede da fazenda, atravessei cinco quilômetros de vinhas. É bom agendar a visita por telefone, coisa que não fiz: coube-me curtir, solitário, um Esporão em sua própria herdade e imaginar a dinastia Souza a correr por aqueles lindos campos.

Campo de papoulas na planície do Alentejo Campo de papoulas na planície do Alentejo

Campo de papoulas na planície do Alentejo – Foto: Superstock

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Évora, a capital do Alentejo, tem uma relíquia arquitetônica da invasão romana, o Templo de Diana, um fórum com colunas e capiteis coríntios do século 1. Bem em fente, a Igreja dos Loios exala lusitanismo nas paredes forradas de azulejos azuis. A grande atração da cidade, no entanto, atende pelo nome de Capela dos Ossos e é toda revestida com fêmures, crânios e afins, de cerca de 5 mil monges. Se a iluminação quebra o ar sinistro, o mesmo não se pode dizer da inscrição “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. Movimentada durante o dia, a bonita Praça do Giraldo fica bucólica à noite, ótima para uma caminhada depois do borrego (cordeiro) ou da açorda alentejana, aquela estranha sopa de azeite, do restaurante Dom Joaquim (Rua dos Penedos, 6, 351-66/73-1105).

Num raio de 60 quilômetros de Évora há uma dúzia de feguesias dominadas por castelos ou cercadas de muralhas. Em Arraiolos, dos famosos tapetes de lã bordados à mão, os muros do castelo são de 1305. Em Estremoz, há muralhas nas partes alta e baixa da cidade – teria até no subsolo, se houvesse um. Na vizinha Vila Viçosa, o Paço dos Bragança (casa dos monarcas brasileiros) ladeia um dos mais belos largos do Alentejo e preserva os aposentos do último rei de Portugal. Mais ao norte, no entorno da cidade de Portalegre, Marvão exibe seu castelo no alto da Serra do Apoio, ao redor do qual as casinhas caiadas servem de moradia para menos de 200 habitantes. Cenário parecido eu encontrei em Monsaraz, idílio alentejano com poucas almas sob o sol e ampla vista para o Alqueva, o maior lago artificial da Europa. Perto, a N18 atravessa São Pedro do Corval, onde as olarias à beira da estrada vendem delicadas cerâmicas por preços bem menores que o da porcelana portuguesa. Comprei uma travessa toda trabalhada por € 14 e uma caneca digna de colecionador a € 3,50.

O vilarejo de Porto Covo acompanhado pelo Atlântico O vilarejo de Porto Covo acompanhado pelo Atlântico

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O vilarejo de Porto Covo acompanhado pelo Atlântico – Foto: Cro Magnon/Alamy

Falar de todas as cidades do Alentejo, dos vinhos, das migas (pão amassado), do artesanato e da vida boa e simples da região renderia uma enciclopédia. Mas nela pouco espaço costuma haver para um pedaço no oeste da província. O litoral alentejano tem praias lindas e vazias, ligadas por estradinhas secundárias. Aqui e ali surgem baías de mar azul, algumas das quais protegidas por falésias, caso de Porto Covo. Ao sul, Cercal do Alentejo esconde pousadas graciosas, como a Herdade da Matinha (www.herdadedamatinha.com). A seguir, Zambujeira do Mar é cercada por belas escarpas. Mais ao sul o cenário ganha tintas globais, com resorts e gringos de canela muito branca. Assim é o Algarve – o Alentejo ficou para trás.

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