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Cambará do Sul: aventura entre os maiores cânions do Brasil

Pequenas aventuras nos maiores cânions do Brasil + pequenos hedonismos em pousadas românticas & charmosas. É o combo perfeitinho de Cambará do Sul

Por Betina Neves
Atualizado em 26 Maio 2022, 19h07 - Publicado em 6 ago 2018, 16h00

Em Cambará do Sul, o charme da Serra Gaúcha encontra uma natureza bruta e singular. Tem lugar para curtir o friozinho a dois diante da lareira, comer pinhão e se afundar numa jacuzzi. Mas também tem a maior cadeia de cânions do Brasil, uns desfiladeiros descomunais tingidos do verde da Mata Atlântica. E o bom é que dá para fazer a travessia entre os dois estilos de viagem sem grandes dramas.

Entre um pequeno hedonismo e outro, é possível pegar um carro, chacoalhar um tiquinho pela estrada de terra e visitar os dois principais cânions da região, Itaimbezinho e Fortaleza – uma experiência possível graças à boa estrutura dos Parques Nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral, a cerca de 200 quilômetros de Porto Alegre, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.

Explicação geológica para um cânion: um vale profundo e sinuoso, cravado por um curso d”água. Acredita-se que a formação dessa região tenha sido esculpida há mais de 130 milhões de anos, quando a América se descolou da África num dos maiores eventos magmáticos do planeta. O movimento tectônico e o derramamento de lava geraram escarpas, vales e gargantas, moldados pela água e pela erosão com o passar dos anos.

Cachoeira das Andorinhas no Cânion de Itaimbezinho - Parque Nacional de Aparados da Serra
A Cachoeira das Andorinhas se derramando no Itaimbezinho (Zé Paiva/pulsar imagens/Wikimedia Commons)

Explicação emocional de estar diante de um cânion: pequenez. Eu queria ser um drone para sobrevoar os paredões, me infiltrar nas florestas penduradas nos precipícios e acompanhar as águas das cachoeiras nas rochas basálticas. Só me restou observar da beiradinha…

O Fortaleza tem estrutura rústica. Depois do estacionamento, você segue a pé por uma trilha rápida e vai vencendo o matagal e uma ventania danada até chegar a essa majestosa muralha de 7,5 quilômetros de extensão e 940 metros de profundidade. Caberiam ali quase três avenidas Paulista inteiras, com todos os seus prédios e antenas. Outra trilha, que atravessa o Rio do Tigre Preto, conduz até o outro lado do cânion, onde há uma cascata de 400 metros de altura. O caminho termina no Mirante da Pedra do Segredo, marcado por uma esfera de rocha na ponta de uma escarpa.

O Itaimbezinho também tem duas trilhas para ângulos diferentes. A do Cotovelo passa por uma borda do cânion sobre plataformas de madeira. Mas gostei mais da vista da Trilha do Vértice, porque de lá se vê a Cascata Véu da Noiva derramando suas águas entre a vegetação dos paredões de 720 metros – quase duas vezes o tamanho do Pão de Açúcar, no Rio!

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Canyon Itaimbezinho, Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Os paredões estonteantes do Itaimbezinho (Agustavop/iStock)

É difícil fotografar os cânions pela incidência desigual de luz – o interior deles fica muito escuro nas fotos. O detox acaba sendo bom, porque o viajante é obrigado a exercitar seu poder de contemplação. Só vá em dias de céu azul para não correr o risco de ter o visual coberto pela “viração”, a neblina comum por lá devido à massa de ar quente que vem do litoral (a 100 quilômetros dali) e se choca com a umidade da serra. Para se aprofundar, literalmente, na experiência, vale encarar a Trilha do Rio do Boi, organizada por agências da região. Com 9 quilômetros, ela envereda por dentro do Cânion Itaimbezinho.

No caminho, você vai ter a sensação de ter sido engolido pelas encostas gigantes ao redor. Entre a mata fechada e várias travessias do rio, por vezes com água até os joelhos, chega-se a quedas-d”água e piscinas naturais. Atualmente, as trilhas da região recebem 190 mil visitantes por ano. “Não é nem 20% do potencial da área. Planejamos abrir novas trilhas e desenvolver mais atividades”, diz Clarice Silva, engenheira ambiental e gestora dos parques nacionais.

BOM PRA DOIS

Kantu Quente, Cambará do Sul
A dona do Kantu Quente concentrada no tear (Anna Laura Wolf/Reprodução)

Cambará do Sul é uma cidadezinha sonolenta de 7 mil habitantes com quarteirões ao redor da Igreja Matriz de São José. Nas casinhas de madeira entremeadas por árvores de bergamota (mexerica, em gauchês) há lojas, como a Coisas da Serra, que vendem cuia e erva para chimarrão e botas de montaria. Para roupas, cachecóis e pantufas fofinhas de lã, passe na Kantu Quente, onde você pode ver a proprietária trabalhando no tear. Meia dúzia de restaurantes acolhe os turistas.

O Casarão tem rodízio de truta, típica da região, com vários molhinhos acompanhando. Para esquentar as noites frias, o Zuppa Sopas & Afins tem caldos servidos no pão. E o único bar da cidade é o Du Perau Pub, que serve a cerveja Grota Bier, feita na cidade próxima de Praia Grande com água que corre nos cânions.

É provável que você se sinta tentado a encher a mala com delicinhas da região. Ainda no caminho de Porto Alegre até lá, faça como os gaúchos e pare na Maquiné, especializada em produtos coloniais – compre uma rosca e um punhado de rapadura. Na estrada, tem saquinhos de pinhão recém-recolhidos – e já cozidos para ir comendo no carro.

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Produtos da Casa do Mel, Cambará do Sul
Produtos da Casa do Mel, Cambará do Sul (Anna Laura Wolf/Reprodução)

Uma vez em Cambará, pare na Casa do Mel, onde há variedades produzidas nos apiários da região. Por último, visite o Sabores da Querência. Os proprietários Claudia e Álvaro trocaram a cidade grande por esse sítio orgânico. Dependendo da época do ano, você consegue ver os pés carregados de framboesas, mirtilos e amoras. A sede bonitinha tem mesas para tomar um café e provar as geleias e os antepastos da casa – veja também se eles têm um sorvetinho de araçá, feito ali, para servir. Querência, mais uma para o dicionário gauchês, remete à terra natal, ao lugar em que se nasceu e se acostumou a viver.

As pousadas se espalham pelo centrinho e pelas estradas de terra que desembocam na cidade. A econômica Bela Vista tem chalezinhos coloridos de madeira com quintal, e a charmosa Cafundó conta com uma sede envidraçada com décor romântico e suítes com edredons de pluma de ganso – tudo rodeado por um vale com trilhas e quedas-d”água. A pousada mais sofisticada por ali é a Parador Cambará do Sul, que aposta no conceito gringo de “glamping” (camping + glamour). As acomodações ficam em cabanas cobertas por lona térmica sobre palafitas de madeira, com jacuzzis nas varandas e calefação interna, e a propriedade tem um spa assinado pela L”Occitane. Recentemente foram inaugurados casulos ainda mais confortáveis, veja aqui.

Roupas para friozinho da Coisas da Serra, Cambará do Sul
Roupas para friozinho da Coisas da Serra (Anna Laura Wolf/Reprodução)

Mesmo que você não fique ali, vale reservar uma noite de fondue, servido às terça e às sextas, com um bom blend de queijos e um cordeiro macio na sessão das carnes. Nesse pequeno mas charmosinho conjunto de hospedagens, não há dúvidas: o esquema é pensado para dois. A ideia por ali é dormir abraçado por camadas de cobertas depois de um jantar com um bom vinho gaúcho e aí acordar ao som dos canários e curicacas antes de se abastecer de cafés da manhã repletos de sonhos e cucas (esse pão doce tão gaúcho) e partir para o tour do dia.

PASSEIO SAIDEIRA

Cachoeira dos Venâncios, Cambará do Sul
A Cachoeira dos Venâncios, boa para quem já viu os cânions (Anna Laura Wolf/Reprodução)

A Cachoeira dos Venâncios, localizada numa fazenda particular a 17 quilômetros de Cambará, é destino para quem já visitou os cânions. Com quase ninguém à vista, ela guarda um conjunto de quedas que se desdobram pela extensão do Rio Camisas. Outro tour light são as cavalgadas, feitas ao pôr do sol entre a amplidão dos campos de altitude, o correr dos arroios e as brasileiríssimas e fotogências araucárias.

Na volta para Porto Alegre, tem mais…Ainda é possível passar pelo Refúgio Ecológico Pedra Afiada, a 40 quilômetros por estrada de terra de Cambará em direção à cidade de Praia Grande. Ali você cursa uma trilha entre a garganta do Cânion Malacara pelo leito do rio até um conjunto de piscinas naturais. Se a temperatura deixar, mergulhe nelas.

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A gestão dos parques deve reabrir ainda neste ano uma trilha pela borda do cânion, na parte de cima, que ficou fechada por 12 anos. Para quem gosta de caminhadas mais intensas, serão 15 quilômetros de percurso, entre mirantes que, ao longe, permitem ver o borrão azul do mar. Mais um motivo para conferir esse pedacinho gigante pela própria natureza da Serra Gaúcha.

Ficar

Casinha da Pousada Bela Vista, Cambará do Sul
Casinha da Pousada Bela Vista (Reprodução)

Opção com bom custo/benefício, a Pousada Bela Vista tem chalezinhos de madeira em um gramado – o da categoria superior, com vista para o lago e lareira. O café da manhã é bem servido. Na Bolicho Guabiroba, os chalés confortáveis ficam dispostos num campo entre araucárias.

O restaurante serve cervejas artesanais feitas pelos donos. Na charmosa Pousada Cafundó, o preço inclui uma garrafa de vinho e tábua de frios na chegada. O Parador Cambará do Sul é o mais chique da cidade, com spa L”Occitane e chalés/barracas térmicas com jacuzzi.

Comer

Doces caseiros, Cambará do Sul
Doces caseiros, Cambará do Sul (Anna Laura Wolff/Reprodução)

Para um almoço econômico, o Galpão Costaneira tem bufê self-service com comida campeira e, por vezes, um sanfoneiro animando o ambiente. O Casarão tem rodízio de truta, típica da região, com acompanhamentos. Para o jantar, o Sendero Bistrô é simpático. Fazem sucesso o filé ao molho de frutas vermelhas e banana flambada com sorvete de araçá. Para esquentar as noites frias, o Zuppa Sopas & Afins tem sopinhas servidas no pão.

O único bar da cidade é o Du Perau Pub Bar, que serve hambúrgueres. Às terças e às sextas, você pode reservar uma noite para um fondue no hotel Parador Casa da Montanha, que vale tanto pela refeição quanto pelo ambiente charmosíssimo. Aos sábados, eles também ser-vem um churrasco gaúcho feito no fogo de chão, ao ar livre.

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Passear

É possível ir sem guia visitar os principais cânions da região: Itaimbezinho e Fortaleza, e também a Cachoeira dos Venâncios. Para cavalgadas, a Trilha do Rio do Boi e outros passeios, veja com as agências Cânion Turismo e Coiote Adventure. O Refúgio Ecológico Pedra Afiada guarda pousada e a entrada para as piscinas do Cânion Malacara.

Churrasco, Cambará do Sul
Pequeno emblema da região: churrasco (Anna Laura Wolf/Reprodução)

Como chegar

Cambará do Sul fica a 200 km de Porto Alegre. A Latam voa desde R$ 407 e a Avianca desde R$400. Para se locomover com liberdade, alugue um carro em empresas como a Foco e a Localiza.

Quando ir

O outono e o inverno têm dias frios e ensolarados, com boa visibilidade dos cânions. Na primavera e no verão, chove mais, mas a temperatura elevada viabiliza banhos de rio e cachoeira e as pousadas têm diárias mais baixas. Os meses mais secos são abril e maio.

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