Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Série verão na Europa parte 1: a ilha de Maiorca

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h10 - Publicado em 2 jul 2008, 11h07

Como o nome sugere, Maiorca é a maior das integrantes do arquipélago das baleares. A ilha é espanhola apenas em teoria. Na época em que o finado marco alemão era fortão em relação à frágil peseta espanhola (que deus a tenha), a turma do chucrute aproveitou para comprar metade da ilha e transformá-la em colônia de férias. Muitos deles, empolgados com a vida boa do mediterrâneo, acabaram ficando. E hoje em dia o lugar é praticamente uma colônia alemã extra-oficial. A sinalização das ruas, os cardápios dos restaurantes e até mesmo os anúncios de emprego nos jornais estão neste idioma – e às vezes só nele. E muitos mallorquís o aprendem antes de tentar o inglês.

A presença germânica em massa, somada ao fato da maior das Baleares ser o destino eleito pela família do rei Juan Carlos durante o verão, fazem com que a ilha seja um brinco. Tudo funciona como um relógio suíço. O aeroporto é moderno e gigantesco, todos os canteiros são impecavelmente floridos, não há uma bituca de cigarro sequer nas ruas, e o lixo é armazenado em depósitos subterrâneos e recolhido de forma mecânica. O centro antigo lembra o de Barcelona, mas sem aquela muvuca, o cheiro de xixi e os doidões.

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A capital, Palma, é uma cidade e tanto. Nada a ver com os povoadinhos brancos de ibiza e Formentera e de outras regiões da própria ilha. Ao desembarcar no porto o visitante dá de cara com uma catedral gótica (Plaça Salmonia, 971-723-130) apoteótica com o interior construído por Gaudí. As avenidas são monumentais, os palácios seculares e a cidade ainda tem um baita museu de arte contemporânea high-tech, o Es Baluard, e um povo elegantérrimo circulando por seus calçadões.

Pouco menos da metade de sua população total (790 000 habitantes) vive na capital. O resto se espalha por cidades de pequeno e médio porte na costa e no interior. Todas interligadas por autopistas que não fazem feio perto das super Autobahn alemãs. Ali, não dá pra ser feliz sem carro. O sistema de transporte público é excelente entre os centros urbanos, mas para chegar até as praias mais bonitas e selvagens, que são muitíssimas, só motorizado ou com uma disposição sobre-humana para caminhar por estradinhas estreitas cercadas por murinhos de pedras, oliveiras, amendoeiras e vinhas, no maior espírito mediterrâneo. 

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A ilha parece um pequeno mundo que requer tempo e empenho para ser descoberta. O turista maluco, aquele que passa dois dias em cada lugar, não deve nem perder a viagem. A lista de atrações engloba desde povoados ultra-românticos na montanha, onde neva no inverno, até praias desertas e remotas, além de vilas com uma infra-estrutura de primeira para quem viaja com criança, cachorro e papagaio.

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Só depois de estar ali alguns verões seguidos consegui escolher a minha parte favorita. A cerca de quarenta minutos de carro de Palma, Campos é uma cidadezinha de 8000 habitantes ao sul da ilha que foi fundada por Jaime II em 1300 e parou no tempo. Sua igreja, de Santa Julia, tem nada menos do que um cristo pintado por Murillo, um dos maiores pintores espanhóis de todos os tempos. Além disso, tem casarões de pedra e cafés com mesinhas na rua (sim, porque as calçadas são estreitíssimas).
De Campos saem as estradinhas que levam às praias mais bonitas da ilha, na minha modesta opinião: areia branca como açúcar, nenhuma construção, arbustos verdes e águas no inconfundível tom de azul balear. Em direção ao povoado de Colónia de Sant Jordi está Es Trenc (badalada, apesar de não ter edificações na maioria de sua extensão). Seguindo para o Cap de Ses Salines chega-se às inacreditáveis praias de Es Cargols e Marmols, réplicas de Es Trenc em menor tamanho e com muito menos gente. E seguindo em direção a Santanyí, se tem acesso a S’Almonia e Caló d’es Moro, protegidas por pedras altas, além do parque nacional de Mondragó. Quem curte natureza também é assíduo freqüentador das redondezas da cidadezinha de Artà, onde fica o Parque Natural de la Península de Llevante, no nordeste da ilha, também pontilhado por praias de areia fofa e mar absurdamente azul.

Ainda que o meu queridinho seja o sul, também babo pelo norte da ilha, assim como o casal hollywoodiano Michael Douglas e Catherine-Zeta Jones e a super dooper modelo alemã Claudia Schiffer, proprietários de mansões espetaculares por ali. O tchans dessa região é a onipresença da Serra de Tramuntana, que tem 90 quilômetros de extensão, quinze de largura e cujo pico mais alto bate nos 1443 metros. Ou seja, uma serra respeitável que forma penhascos junto ao mar onde encarapitam-se vilas ultra-charmosas e surpreendentes.

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Foto: momento “alegria de pobre” colocando os pezinhos “dentro” da casa do Michael Douglas

Valldemossa é hors concours. A cidade que serviu de refúgio para o compositor Frédéric Chopin e a escritora francesa George Sand entre 1838 e 1839 tem casas e ruas de pedras primorosamente conservadas. Todas as portas e janelas são enfeitadas com vasinhos de flores e senhoras fazem tricô na porta de suas casas enquanto fofocam em mallorquí, uma espécie de catalão mais cantado falado pelos nativos.

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Outra pérola da Tramuntana é a vila de Deià, que teve entre seus moradores a ilustre presença do romancista inglês Robert Graves. Também na serra, fica o Santuário de Lluc, construído entre os séculos 17 e 18 na cidadezinha de Lluc. O Camí dels Misteris, a trilha que leva à igreja barroca de La Moreneta, a Virgem Negra, tem relevos do arquiteto Antoni Gaudí.

E como se não bastasse essa combinação de charme com mar e montanha, a Tramuntana termina triunfal no Cap Formentor, um farol acessível por uma estradinha de curvas impossíveis que termina em uma ponta altíssima cercada pelo azul do mediterrâneo por todos os lados, um daqueles lugares onde, se o mundo acabar, você será o último a saber.

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