Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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O que rolou no festival Sónar de Barcelona (e como se programar para 2017)

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h07 - Publicado em 20 jun 2016, 17h15

Hoje é dia de sofrer as consequências da passagem de um furacão chamado Sónar, o festival de música, criatividade e tecnologia que realizou a sua edição de número 23 em Barcelona entre a tarde de quinta-feira e a manhã de domingo. Como já é tradição, o público foi majoritariamente estrangeiro: 53% dos 115.500 participantes vieram de 101 países. Com certo espanto, em 2016 completei 15 anos frequentando o evento sem intervalo. Acho que nem outros móveis e utensílios do line-up, como o eterno canadense Richie Hawtin e o espanhol Angel Molina, conseguiram essa façanha. E que venham muitos mais!

 

Para quem não conhece, o Sónar se divide entre Sónar Dia – com ênfase na música experimental, nas artes e na inovação, num recinto próximo ao centro de Barcelona – e Sónar Noite, a balada propriamente dita, que acontece num centro de convenções gigantesco nos arredores da cidade. Abraçar um festival desse porte, que em 2016 contou com shows de mais de 130 artistas, é uma árdua tarefa. Entre encontros, cervejas, performances e acordes dissonantes (o que me deixa altamente dispersiva, confesso), no Sónar Día assisti de cabo a rabo o ótimo show do rapper britânico Roots Manuva (a música com crítica social teve grande destaque nesta ediçãol). Também ri e rebolei com a doida Santigold, que trocou de roupa freneticamente, chamou uma multidão para subir ao palco e quase desapareceu no meio de uma tempestade de bolhas de sabão. Ainda fiquei boquiaberta com o polivalente chileno Matias Aguayo, que fez duas horas de show sozinho da silva, cantou, dançou, operou vários instrumentos e elevou a expressão “multitask” a uma nova dimensão.

Todo-poderoso (e de Crocs) Roots Manuva

Todo-poderoso (e de Crocs) Roots Manuva

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Santigold num mar de bolhas no Sónar Dia (ela também fez uma apresentação à noite)

Santigold num mar de bolhas no Sónar Dia (ela também fez uma apresentação à noite)

Já o Sónar Noite teve um baita quê retrô, ainda que os envolvidos definitivamente se atualizaram e continuam dando um caldão. Exemplos? New Order, Jean-Michel Jarre e o tiozão Fatboy Slim! Isso sem falar no highlander francês Laurent Garnier que, do alto de seu meio século de existência, comandou um set de nada menos do que SETE HORAS na noite de sábado, em um palco novo chamado Sónar Car, cercado por uma cortina vermelha de veludo, num espaço onde não cabia mais nem uma alma (pena… com tanto lugar sobrando naquele pavilhão). A mesma façanha foi desempenhada pelo britânico Four Tet (codinome do produtor Kieran Hebden) na noite de sexta. Teve nego achando que era ala VIP, tamanho o stress pra entrar.

 

Um dos motivos pelos quais eu não me canso do Sónar (do ponto de vista existencial, porque do corpitcho só resta o caramelo) é que o festival não é apenas uma grande balada. Sim, a gente bebe, a gente dança, a gente beija na boca e derrapa na curva. Mas existe uma base conceitual e intelectual forte por trás da bagunça, que cresceu e amadureceu com os anos e hoje em dia tem um papel bem forte dentro do conjunto da obra. O melhor exemplo disso é o Sónar +D, um congresso de criatividade, tecnologia e empreendedorismo que acontece paralelamente ao Sónar Día com palestras, workhops e networking. Em 2016, o evento reuniu 4.700 profissionais de mais de 2.600 empresas do mundo da cultura, tecnologia, ciência, educação e negócios. Se você precisava de uma desculpa para viajar a trabalho para o Sónar, ei-la. Adoraria que, mais adiante, essa parte fosse destacada do evento festivo para que os impulsos hedonistas não me impeçam de aproveitar melhor o conteúdo do evento.

O astral do Sónar Dia, a melhor parte do festival

O astral do Sónar Dia, a melhor parte do festival (foto: Cássio Leitão)

Outro ângulo do palco ao ar livre do Sónar Dia (foto: Cássio Leitão)

Outro ângulo do palco ao ar livre do Sónar Dia (foto: Cássio Leitão)

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Mar de gente no Sónar Dia

Mar de gente no Sónar Dia (Foto: Cássio Leitão)

A instalação EarthXXXX

A instalação Earthworks

Earthworks

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A instalação em outro momento (Foto: Cássio Leitão)

A instalação em outro momento (Foto: Cássio Leitão)

E se o vínculo mais direto com as artes visuais diminuiu um pouco com a mudança de endereço do Sónar Día – anos atrás, o festival acontecia entre o MACBA (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona) e o CCCB (Centro de Cultura Contemporânea) e abrangia todas as suas respectivas exposições – ele não foi perdido. A grande maravilha de 2016, para quem teve paciência de procurá-la num cantinho não muito chamativo, foi a instalação Earthworks, produzida pelo studio britânico Semiconductor dentro do projeto Sónar Planta. Com cinco telas gigantes de 5,5 metros posicionadas em ziguezague, a obra reproduz sons e imagens de gráficos gerados pela evolução dos movimentos dos estratos da terra, causados por terremotos, glaciares e vulcões. Beleza pura, nunca melhor dito (não deixe de ver o vídeo abaixo!).

 

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=XqLmEgbXd58?feature=oembed%5D

 

SÓNAR 2017: PARA PLANEJAR

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As entradas do Sónar 2017 (de 15 a 17 de junho) começarão a ser vendidas quarta-feira, dia 22, pelo precinho camarada de 115 euros (o valor vai aumentando na medida em que o evento se aproxima). Se você quer se jogar na “Barceloca”, eis a melhor época para vir à cidade. Esticando um pouquinho a viagem, você ainda pode aproveitar o San Juan (na noite do dia 23 para 24 de junho), a data mais bombástica do ano, com festa na praia a la Réveillon no Brasil. Chegando um pouco antes, dá pra fazer dobradinha com o Primavera Sound que, em 2017, rola entre 31 de maio e 4 de junho.

E mais: Buenos Aires, Santiago e Bogotá estão na rota internacional do festival para os próximos meses, em datas que devem ser anunciadas em breve.

 

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