Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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A primeira vez na malha fina da imigração a gente nunca esquece

Nossa blogueira foi fisgada por um oficial da imigração para a temida acariação. O final foi feliz graças aos comprovantes e a uma certa atitude

Por Adriana Setti
Atualizado em 10 jul 2019, 18h58 - Publicado em 18 dez 2014, 22h13

Um dia antes da minha viagem para a Austrália, um amigo contou sobre a dor de cabeça que teve para entrar nos Estados Unidos. Ele tem sobrenome libanês, mora em Dubai e coleciona selos de vários países árabes no passaporte por questões de trabalho. Na cabeça paranoica do agente de imigração americano, isso merecia ser investigado com lupa, e ele acabou passando horas e horas sendo interrogado numa salinha misteriosa até finalmente ser liberado para entrar no país. Ao ouvir a história, comentei: “nossa, eu viajo tanto e nunca tive nenhum problema de imigração, bate na madeira”. Ao aterrissar em Sydney, o destino se encarregou de resolver essa pendência na minha biografia de viajante.

Brasileiros precisam de visto para entrar na Austrália. Basta preencher um formulário eletrônico e pagar uma taxa. Para europeus, é ainda mais fácil. O formulário eletrônico é mais curto e o visto é grátis. Na hora de passar no guichê, já no aeroporto de Sydney, a funcionária deu uma olhada rápida no passaporte (brasileiro) do meu marido, carimbou e liberou. Então apareceu um homem de terno, puxou meu passaporte (lituano, biométrico, da União Europeia) do balcão e disse: “você vem comigo”. GLUP.

–       Posso saber por quê?

–       Porque eu posso.

Depois da resposta mais arrogante de todos os tempos, ele baixou o tom. “Não se preocupe, não tenha medo, nós apenas escolhemos algumas pessoas aleatoriamente para checar alguns dados; se estiver tudo certinho você não vai ter problema algum”. Ai, que delícia passar por isso depois de um voo de 14 horas…

Aqui abro um parênteses: depois de anos na estrada, entendi que viajar com passaporte lituano não é como viajar com outro passaporte europeu, como espanhol, alemão. Apesar de fazer parte da União Europeia desde 2004, a Lituânia é eternamente associada à Rússia e a toda a bagagem negativa que isso implica (dizem que o passaporte lituano é o favorito da máfia russa para falsificações). Bom, isso quando o agente de imigração consegue deduzir que o EUROPOS SAJUNGAS estampado na capa do meu documento vermelhinho quer dizer “União Europeia” e que  LIETUVOS RESPUBLIKA é sinônimo de Lituânia (que por sua vez existe). Ainda assim, ser a única passageira (entre 500 pessoas desembarcadas de um A380 vindo de Dubai repleto de mulheres cobertas com véus e homens de turbantes) a cair na malha fina foi bastante emocionante.

Não cheguei a entrar na salinha. Ufa. O agente parou justo na porta do temido aquário de vidro e começou a fazer perguntas ali mesmo. Nessa hora, fez toda a diferença ter um “dossiê de viagem” organizadinho e na ponta da língua. Apesar de nunca ter tido problemas anteriormente, sempre me preocupei em ter em mãos os dados que, em teoria, podem ser solicitados pelo agente de imigração de qualquer país – que é quem decide se você entra ou não, a despeito do visto.

“Quanto tempo você pretende ficar na Austrália?”. Respondi mostrando a passagem de volta, para três meses mais tarde, sem que ele pedisse. A partir daí, ele não pediu para ver mais nenhum papel (suponho que por causa da firmeza com que dei as respostas). “Quais os seus planos para todo esse tempo?”. Falei de bate pronto sobre meu roteiro, com datas precisas, contando que tinha alugado carro para determinado trecho, AirBnb para cidades X, Y, Z, bate e volta para Fiji a certa altura. “Quanto dinheiro você tem para se bancar?”. Respondi que tinha X em dinheiro vivo, X cartões de créditos e um cartão de débito. Ele também indagou sobre meu trabalho, sobre o tempo que eu morava na Europa e meu estado civil. Meu marido ficou comigo o tempo todo e respondeu tudo praticamente em coro. Por fim, o agente perguntou se eu tinha amigos e familiares no país. Disse que minha cunhada, que tem nacionalidade australiana e é médica, mora em Sydney e estaria me esperando no aeroporto. Ele pediu o nome completo dela e desapareceu por uns 15 minutos. Na volta, fui liberada.

Com base nessa experiência, recomendo que você nunca passe pela imigração de nenhum país (sobretudo Austrália e Estados Unidos) sem ter em mãos:

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1. Passagem de volta para uma data coerente com a validade do seu visto. Se você tiver a intenção secreta de esticar a sua temporada, mude a passagem DEPOIS de entrar no país.

2. Um roteiro (ou pelo menos um esboço dele) na ponta da língua. Tudo o que você menos precisa é que o agente de imigração desconfie que a sua intenção no país é algo além de turismo. Quanto mais reservas de hotel, carro e voos na mão, melhor.

3. Extrato bancário e um impresso com os limites dos seus cartões de crédito.

4. Seu contrato de trabalho, contracheque ou algo que comprove a sua atividade (e consequentemente um vínculo com o país onde você mora). No meu caso, como sou freelancer, sempre carrego uns PDFs de reportagens feitas por mim e o link deste amado blog.

5. Nome, endereço e telefone das pessoas que você conhece no país. Mas ATENÇÃO: se o seu amigo/familiar estiver morando no país em situação ilegal ou precária (ex: com visto de estudante para vencer na semana seguinte), não mencione a sua existência. Se você for ficar hospedado na sua casa, o melhor a fazer é uma reserva em algum albergue ou hotel para o mesmo período, só para constar (de preferência das que podem ser canceladas sem custo).

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